Por que odiar alimentos pode estar te afastando de uma alimentação equilibrada?
Como nutricionista, é comum ouvir meus pacientes falarem sobre “odiar” alimentos ultraprocessados ou se forçarem a “amar” apenas os alimentos considerados saudáveis. Mas será que essa relação de amor e ódio com a comida realmente contribui para o equilíbrio alimentar e para a saúde?
Na verdade, esse conceito de classificar alimentos como “bons” e “ruins” pode, muitas vezes, prejudicar nosso bem-estar e até intensificar a compulsão alimentar. No momento em que um alimento é visto como vilão, ele automaticamente desperta nosso interesse, pois o proibido geralmente parece mais atraente. Então, a questão principal não é odiar ultraprocessados; o que precisamos é de uma visão consciente sobre o impacto deles na nossa saúde.
Quando falamos de nutrição integrativa, o olhar é muito mais amplo e acolhedor. Na prática, isso significa que, antes de rotular ou restringir, entendemos que toda mudança alimentar saudável começa pela consciência e pela neutralidade em relação aos alimentos. Esse processo nos ajuda a enxergar a alimentação não como uma lista de regras, mas como uma prática de autocuidado.
A Armadilha do “Proibido” e o Ciclo Restrição-Compulsão
A ideia de rotular alimentos muitas vezes cria a sensação de restrição e leva ao que chamamos de ciclo de restrição-compulsão. Isso significa que, ao proibir o consumo de certos alimentos, acabamos aumentando nosso desejo por eles. Essa armadilha é uma das principais que vejo em consultório, quando pacientes chegam com relatos de compulsão por alimentos ultraprocessados, exatamente porque são “proibidos” na dieta.
Ao entender que não precisamos eliminar totalmente os ultraprocessados, mas sim reduzir o consumo de forma gradual e inteligente, começamos a construir uma relação mais leve com a alimentação. Este é um ponto essencial da nutrição integrativa: promover a alimentação saudável sem que haja culpa ou medo, ajudando a quebrar o ciclo de dieta-restrição-compulsão.
Quando falamos de equilíbrio alimentar, queremos uma relação saudável e duradoura com a comida. Isso envolve aprender a consumir alimentos ultraprocessados de forma moderada e a compreender o impacto que eles têm na saúde – algo que vai além das calorias ou do valor nutricional. É sobre entender como eles afetam o corpo, principalmente o intestino e a microbiota intestinal, que têm papéis fundamentais na nossa saúde.
Consciência Alimentar e Nutrição Integrativa
A nutrição integrativa nos convida a desenvolver uma consciência alimentar que vai além de contar calorias ou restringir grupos de alimentos. Ela envolve conhecer o que estamos comendo, entender os efeitos de cada tipo de alimento no organismo e escolher com mais sabedoria.
A consciência alimentar é especialmente importante quando falamos de alimentos ultraprocessados, que muitas vezes não são alimentos de verdade, mas combinações químicas que imitam o sabor e a textura da comida real. Eles contêm aditivos, conservantes e substâncias artificiais que podem sobrecarregar o organismo e prejudicar a microbiota intestinal, composta por trilhões de microrganismos que desempenham funções cruciais na digestão, imunidade e até no humor.
O consumo excessivo de ultraprocessados pode interferir na composição da microbiota, promovendo o desequilíbrio que chamamos de disbiose. Esse desequilíbrio impacta negativamente o funcionamento intestinal e abre caminho para problemas digestivos, inflamações e até distúrbios metabólicos. Portanto, quando promovemos a consciência alimentar na nutrição integrativa, estamos incentivando uma alimentação mais natural e nutritiva que respeita a complexidade do corpo humano, ajudando-o a manter o equilíbrio.
Como Evitar o Ciclo Restrição-Compulsão e Construir uma Relação Saudável com a Comida
Desenvolver uma relação saudável com a comida significa reduzir o consumo de ultraprocessados sem radicalismos, construindo um caminho sustentável de alimentação saudável. No consultório, muitas vezes sugiro estratégias como a redução gradual, o consumo consciente e a reeducação alimentar.
Esse processo de moderação permite que o paciente ganhe controle e autonomia sobre suas escolhas, sem recorrer ao “tudo ou nada”. Nessa abordagem, ao invés de cortar um alimento de vez, é possível diminuir sua frequência e quantidade. Essa estratégia reduz o peso emocional dos alimentos proibidos e melhora a qualidade da alimentação de forma geral.
Aqui também entra a importância de conhecer o próprio corpo, o biotipo e o metabolismo, e como essas características influenciam nossa relação com a comida. A ideia é permitir que o corpo se acostume com uma alimentação mais saudável sem a pressão de restrições rígidas, promovendo uma mudança gradual e sustentável.
Transformando Hábitos para uma Rotina Sustentável e Saudável
A mudança para uma alimentação saudável envolve muito mais que cortar ou adicionar alimentos: é um trabalho contínuo de transformação de hábitos. Na nutrição integrativa, o foco está em construir uma relação prazerosa e equilibrada com a comida, integrando novos hábitos que possam ser sustentados ao longo do tempo.
Para isso, a primeira mudança é substituir, aos poucos, os alimentos ultraprocessados por opções naturais e minimamente processadas, que preservam nutrientes e promovem um melhor funcionamento do intestino. Esse processo ajuda a restaurar a microbiota, favorecendo a saúde intestinal e, consequentemente, o bem-estar geral.
Porém, cada pessoa é única e, na nutrição integrativa, respeitamos o ritmo e as necessidades de cada indivíduo. A reeducação alimentar não é feita de um dia para o outro; é preciso paciência e consistência para que os novos hábitos possam se consolidar. Pequenas trocas diárias, como escolher um lanche caseiro em vez de um produto industrializado, têm grande impacto a longo prazo, contribuindo para a saúde do corpo e da mente.

Quando Buscar Apoio Profissional? O Valor de Uma Equipe Multidisciplinar
Para quem enfrenta dificuldades com a alimentação ou sente que a compulsão por ultraprocessados está além do controle, buscar ajuda profissional pode fazer toda a diferença. Nutricionistas, psicólogos e outros especialistas podem ajudar a entender e tratar as raízes emocionais e comportamentais que afetam a relação com a comida.
Na nutrição integrativa, o trabalho em equipe é um dos pilares fundamentais, pois entendemos que a saúde é uma construção coletiva. Por isso, além do acompanhamento nutricional, o apoio de um psicólogo, por exemplo, pode ser essencial para lidar com questões emocionais, como a fome emocional. Assim, as mudanças alimentares tornam-se mais profundas e efetivas.
Conheça as Categorias dos Alimentos e Pratique a Consciência Nutricional
Um dos passos para desenvolver uma alimentação mais consciente é entender as categorias dos alimentos e suas diferenças. Isso nos ajuda a fazer escolhas melhores e a identificar quais são os ultraprocessados.
Alimentos in natura: São aqueles consumidos em sua forma natural, sem passar por processos industriais. São as frutas, verduras, legumes e carnes frescas, que contêm nutrientes essenciais e fibras que beneficiam a saúde e ajudam a alimentar a microbiota intestinal.
Minimamente processados: Passam por processos que preservam sua composição nutricional original, como limpeza, embalagem, moagem ou pasteurização. Aqui se encontram alimentos como arroz integral, feijão, iogurte natural, entre outros que são opções seguras para uma alimentação saudável.
Processados: Recebem adição de sal, açúcar ou gordura para prolongar sua duração e melhorar o sabor. Exemplo disso são queijos, pães e conservas. Esses alimentos ainda contêm uma parte de ingredientes naturais, mas é importante moderar o consumo.
Ultraprocessados: São produtos que contêm ingredientes industrializados, como conservantes, corantes e aditivos. Esses produtos geralmente contêm poucos ou nenhum ingrediente natural e podem afetar a microbiota intestinal, prejudicando o intestino e a saúde geral.
Ter essa clareza é fundamental para uma prática consciente na hora de escolher os alimentos. Não se trata de eliminar completamente os ultraprocessados, mas de saber dosar e escolher alternativas que alimentem o corpo de forma mais completa.
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