Você já parou para pensar no quanto o número da balança pode nos enganar?
Quem nunca olhou para aquele número e criou mil expectativas ou, ao contrário, sentiu um peso nas costas que nem sabia de onde vinha? Acontece que a nossa relação com a balança pode ser enganosa, porque o peso não reflete tudo o que está acontecendo no nosso corpo. Ele é só uma pequena parte da história. Existem muitos fatores, como o seu biotipo, o seu metabolismo, e até o momento do ciclo menstrual, que podem interferir diretamente no número que aparece ali. Então, vamos explorar juntos o que está por trás desses números para entender melhor a nossa relação com a balança?
Entendendo o Biotipo e Seu Impacto no Peso
Vamos começar falando sobre um dos fatores mais importantes e talvez menos conhecidos que influenciam nosso peso: o biotipo corporal. Esse conceito é essencial dentro de uma nutrição integrativa, que considera o corpo como um todo, respeitando as particularidades de cada pessoa. No meu trabalho, vejo muitas pessoas que sentem frustração quando o número da balança não corresponde ao esforço dedicado à alimentação e atividade física. Porém, o que acontece é que o biotipo de cada um impacta diretamente na maneira como o nosso corpo ganha e perde peso.
Os biotipos podem ser classificados em três tipos principais, cada um com características únicas:
Endomorfo: Esse é o biotipo que tende a ganhar massa e gordura com facilidade, mas também perde ambos de maneira lenta. Pessoas com esse biotipo, ao começar uma rotina de exercícios ou mudanças na alimentação, podem até ver o peso aumentar inicialmente devido ao ganho de massa magra. Porém, isso não significa que não estejam emagrecendo; pelo contrário, muitas vezes estão perdendo gordura ao mesmo tempo em que ganham músculos, o que é um progresso positivo.
Ectomorfo: Já quem é ectomorfo possui uma estrutura naturalmente magra e tem dificuldade em ganhar tanto massa magra quanto gordura. Essas pessoas tendem a ver poucas mudanças no peso da balança, mesmo ao fazer exercícios intensos ou alterar a alimentação. Quando ganham peso, é comum que seja uma pequena quantidade de massa magra, pois a gordura é eliminada rapidamente.
Mesomorfo: O mesomorfo é o tipo intermediário, com facilidade para ganhar e perder tanto massa magra quanto gordura. Quem possui esse biotipo pode perceber flutuações de peso mais regulares, respondendo bem a mudanças na alimentação e no exercício físico.
Essas variações individuais mostram como a nutrição integrativa considera o corpo de forma única. Um plano alimentar ou de atividade física para alguém com biotipo endomorfo pode ser ineficaz ou até contraproducente para alguém que seja ectomorfo, por exemplo. Portanto, saber seu biotipo ajuda a criar metas mais realistas e a ter uma relação mais equilibrada com o peso.
Ciclo Menstrual: Como a Retenção de Líquidos Interfere no Peso
Se você é mulher, provavelmente já percebeu que o peso na balança pode oscilar de acordo com a fase do seu ciclo menstrual. Em alguns períodos, especialmente antes e durante a menstruação, é normal se sentir mais inchada, e isso se reflete na balança. Esse fenômeno é natural e resulta da retenção de líquidos, que é uma resposta do corpo às flutuações hormonais.
Na nutrição integrativa, entendemos que o corpo feminino passa por ciclos de transformação ao longo do mês, e isso deve ser respeitado. Muitas pacientes chegam ao consultório preocupadas com o aumento repentino do peso e acreditando que ganharam gordura. Mas ao investigar, percebemos que, na maioria dos casos, é uma questão temporária ligada ao ciclo menstrual. Essa retenção hídrica não representa ganho de gordura nem altera a composição corporal a longo prazo.
Um ponto importante é que mulheres que usam anticoncepcionais hormonais, como a pílula, podem apresentar retenção de líquidos de forma contínua ou até de maneira intensificada em certas fases do mês. Compreender esse efeito ajuda a reduzir a ansiedade e a frustração ao se pesar.

Oscilações Naturais do Peso ao Longo do Dia
A balança, por si só, já é um instrumento que gera ansiedade para muitas pessoas. Agora, imagine subir nela várias vezes ao longo do dia e ver o número mudar! Pois é, o peso corporal realmente varia conforme a hora do dia, devido a fatores como ingestão de alimentos e líquidos. Essa oscilação, que pode chegar a 1 ou até 2 quilos em um dia, não é reflexo de ganho ou perda de gordura, mas sim de mudanças momentâneas.
Quando comemos, por exemplo, nosso peso aumenta temporariamente devido ao peso dos alimentos e líquidos ingeridos. Esse peso adicional não é absorvido pelo corpo instantaneamente; ele representa apenas o que está no sistema digestivo. Da mesma forma, ao beber água ou outros líquidos, o corpo retém esses fluidos por um tempo, até que seja absorvido ou eliminado.
Se você costuma se pesar com frequência, essa oscilação pode ser um gatilho de frustração, mas ela é natural e não significa que você “engordou” ou “emagreceu” ao longo do dia. O ideal, quando você se propõe a acompanhar o peso, é definir um dia específico da semana, de preferência de manhã, em jejum, e sempre com as mesmas condições. Isso nos dá uma ideia mais precisa de tendências de peso a longo prazo.
A Densidade Óssea e Seu Efeito no Peso Corporal
Outro fator que interfere no número que aparece na balança, mas que raramente é discutido, é a densidade óssea. A estrutura e a densidade dos ossos podem variar bastante de pessoa para pessoa e influenciam diretamente o peso corporal. Pessoas com maior densidade óssea costumam pesar mais, o que não significa que tenham mais gordura ou que estejam acima do peso ideal.
Na prática, uma pessoa com ossos mais densos pode pesar mais que outra com estrutura semelhante, mas ossos mais leves. No entanto, ambas podem ter composições corporais saudáveis. Quando ignoramos esses detalhes, acabamos usando a balança de uma forma injusta, o que afeta negativamente nossa autoimagem e autoestima.
Esse é um dos motivos pelos quais, na nutrição integrativa, fazemos questão de olhar para outros parâmetros além do peso. Composição corporal, circunferência de cintura, gordura visceral e, claro, exames de saúde são partes essenciais da avaliação. Dessa forma, temos uma visão mais completa, que vai muito além do peso.
Velocidade do Metabolismo e Respostas Individuais
O metabolismo é um dos pontos centrais para entender como cada corpo responde às mudanças de alimentação, atividades físicas e até ao próprio descanso. Algumas pessoas têm um metabolismo mais rápido, enquanto outras têm um metabolismo mais lento, e isso afeta diretamente o ritmo de perda e ganho de peso. É por isso que, dentro da nutrição integrativa, a avaliação é sempre personalizada. Não existe uma fórmula única que funcione para todos, e respeitar o tempo de resposta de cada corpo é essencial.
No consultório, vejo muitos exemplos dessa variação: há pessoas que perdem peso rapidamente com pequenas mudanças na alimentação, enquanto outras precisam de semanas ou meses para começar a ver resultados significativos. E é importante lembrar que nenhum dos dois cenários é “melhor” ou “pior”; são apenas formas diferentes de o corpo responder.
Quando estamos cientes do nosso ritmo metabólico, conseguimos definir metas mais realistas e evitar frustrações desnecessárias. Entender o próprio metabolismo é uma ferramenta poderosa para o autoconhecimento, permitindo fazer ajustes no plano alimentar e no estilo de vida de forma consciente e alinhada às necessidades pessoais.
Competição de Peso: Por que Comparar Não Funciona
Uma prática que vem ganhando popularidade são os desafios de emagrecimento em grupo. Essas competições podem ser motivadoras para algumas pessoas, mas também podem ser muito prejudiciais para outras. Cada organismo responde de maneira única, e uma competição que foca exclusivamente no número da balança não considera fatores individuais, como biotipo, metabolismo e ritmo de vida. Na prática, comparar resultados de emagrecimento pode ser injusto e criar uma pressão desnecessária.
Pessoas com metabolismo mais rápido ou maior facilidade em perder peso, como homens, geralmente se destacam nessas competições, o que pode gerar frustração e sentimento de inadequação para outros participantes. Uma abordagem que considera o contexto pessoal e as particularidades de cada um é muito mais saudável e sustentável.
No meu trabalho, sempre incentivo uma perspectiva de mudança de hábitos que vai além do peso. Nutrição integrativa envolve também melhorar a qualidade do sono, praticar atividades físicas de forma regular e trabalhar o equilíbrio emocional. Esses elementos, em conjunto, promovem um emagrecimento mais saudável e duradouro.
Foco em Hábitos de Autocuidado e Bem-Estar
A nutrição integrativa nos ensina a olhar para a saúde de forma completa. Não é apenas sobre o peso, a quantidade de calorias ou o número de quilos perdidos. É sobre como nos sentimos e como estamos cuidando de nós mesmos no dia a dia. Construir hábitos que sustentem nosso bem-estar físico e emocional traz resultados muito mais significativos e duradouros do que uma dieta restritiva ou uma rotina exaustiva de exercícios.
Quando mudamos o foco para o autocuidado e o bem-estar, conseguimos construir uma relação mais equilibrada com a alimentação e o próprio corpo. É aqui que a verdadeira transformação acontece: um processo que respeita seu ritmo, valoriza suas particularidades e promove uma saúde plena e consciente.
Então, da próxima vez que você subir na balança, lembre-se de que aquele número é apenas uma fração da sua história. Se olharmos com atenção para o nosso corpo e ouvirmos as necessidades dele, percebemos que o peso se torna um detalhe, e não a medida do nosso valor ou do nosso sucesso.
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