Peso saudável: um olhar além do IMC e das dietas restritivas

Durante muito tempo, o conceito de “peso ideal” foi tratado como um sinônimo de saúde. Em consultórios, academias e até em conversas de família, repetia-se que bastava calcular o IMC para saber se uma pessoa estava saudável ou não. Essa métrica, que relaciona peso e altura, parecia oferecer uma resposta simples para algo extremamente complexo: o corpo humano.

Mas será que faz sentido acreditar que todos os corpos deveriam se encaixar em uma mesma tabela? Será que o peso ideal é realmente um número fixo que define quem está dentro ou fora da saúde?

Como nutricionista e como mulher que vive essa experiência todos os dias, eu afirmo: não, não faz. O “peso ideal” é um mito que mais adoece do que ajuda. E é justamente por isso que prefiro falar em peso saudável — um conceito muito mais amplo, humano e respeitoso, que parte da escuta do corpo e da nutrição comportamental, e não de fórmulas matemáticas.

Porque os parâmetros de peso máximo, médio e mínimo são irreais

A ideia de que existe um peso máximo, mínimo ou médio adequado para todas as pessoas surge do cálculo do IMC (Índice de Massa Corpórea). Esse índice relaciona apenas dois fatores: peso e altura. À primeira vista, pode parecer uma medida prática e objetiva. Porém, ao reduzir a complexidade de um corpo a apenas dois números, o IMC acaba excluindo uma série de variáveis que são fundamentais para entender a saúde.

Corpos são diferentes — em sua composição, em seu metabolismo, em sua estrutura óssea, em sua genética e até em sua história de vida. Não faz sentido acreditar que todos podem ou devem ter o mesmo “peso ideal” apenas porque têm a mesma altura.

Um exemplo simples: duas pessoas podem pesar exatamente o mesmo, medir a mesma altura, e ainda assim ter corpos completamente distintos. Uma pode ter mais massa muscular, outra pode ter mais gordura corporal. Uma pode ter metabolismo mais acelerado, outra mais lento. Como é possível colocar essas duas realidades dentro da mesma régua?

Por isso, o conceito de peso máximo, médio e mínimo acaba sendo não apenas reducionista, mas também injusto e, muitas vezes, gordofóbico. Ele cria a ideia de que todo corpo deve caber dentro de um limite pré-estabelecido, desconsiderando sua singularidade e impondo metas que não necessariamente correspondem à saúde real daquela pessoa.

Diversidade corporal no Brasil

Se já não faz sentido falar em peso ideal em termos gerais, no Brasil isso se torna ainda mais evidente. Somos um país marcado pela mistura de povos, etnias e culturas. A diversidade genética brasileira é enorme, e isso se reflete diretamente em nossos corpos.

Temos diferentes biotipos convivendo lado a lado: pessoas altas, baixas, magras, mais encorpadas, com estruturas ósseas maiores ou menores, com metabolismo mais rápido ou mais lento. Essa pluralidade é parte da nossa identidade como povo.

Tentar enquadrar todos esses corpos dentro de um mesmo padrão é, além de irreal, uma forma de negar nossa história e nossa diversidade. É como se disséssemos que todos precisam se parecer com um modelo único de corpo — geralmente inspirado em padrões europeus —, ignorando que saúde pode e deve se expressar de diferentes formas.

Problemas de usar o peso como parâmetro de saúde

Quando se utiliza apenas o peso para avaliar a saúde, corre-se o risco de cair em simplificações perigosas. Muitas pessoas, por estarem dentro da faixa de “peso ideal” pelo IMC, podem ter hábitos pouco saudáveis, como má alimentação, sedentarismo, privação de sono ou alto nível de estresse. Outras, mesmo estando fora da faixa considerada “ideal”, podem ter hábitos de vida muito mais equilibrados.

Ou seja: o peso, isoladamente, não é um bom indicador de saúde. Ele pode ser um dado complementar, mas jamais deveria ser a régua principal.

Ao tratar o peso como centro das atenções, cria-se uma cultura de obsessão pelo emagrecimento, muitas vezes às custas de práticas restritivas, de sofrimento e de abandono do prazer de comer. Isso contribui para o aumento da insatisfação corporal, da compulsão alimentar e da perpetuação de discursos gordofóbicos, que desumanizam pessoas que não se encaixam no padrão.

Quem define o peso saudável é o próprio corpo

Uma das premissas mais importantes da nutrição comportamental é entender que cada corpo tem sua própria forma de se expressar. Não cabe a mim, nem a qualquer outro profissional de saúde, determinar qual deve ser o “peso ideal” de alguém. Quem faz isso é o próprio corpo — e ele se comunica por meio dos sinais que emite.

Quando uma pessoa se alimenta de forma adequada, pratica atividade física regularmente, mantém o sono em dia e cuida da saúde emocional, o corpo responde. Ele encontra o seu equilíbrio natural e expressa o seu peso saudável.

Esse peso saudável não é um número fixo e imutável, mas sim um intervalo que respeita a individualidade de cada um. Ele é resultado da interação entre genética, hábitos, contexto de vida e bem-estar emocional.

O corpo fala — e cabe a nós aprender a escutá-lo, em vez de tentar enquadrá-lo em tabelas que ignoram sua singularidade.

Bases para alcançar um peso saudável

Se não é a balança que deve ditar a saúde, o que deve, então? A resposta está em olhar para as bases de uma vida saudável, que vão muito além do peso.

1. Alimentação adequada

Comer de forma variada, equilibrada e prazerosa é essencial. Não se trata de seguir dietas restritivas, mas de construir uma relação saudável com a comida, que envolva tanto o aspecto nutritivo quanto o afetivo.

2. Prática regular de exercício físico

Movimentar o corpo de forma prazerosa e consistente ajuda a regular o metabolismo, fortalece músculos e ossos, melhora o humor e contribui para o equilíbrio geral do organismo.

3. Sono de qualidade

Dormir bem é fundamental para o equilíbrio hormonal, para o metabolismo e para a recuperação do corpo e da mente.

4. Cuidado psicoemocional

Cuidar da saúde mental, das emoções e das relações é tão importante quanto cuidar do que se come. O estresse crônico, por exemplo, pode impactar diretamente o metabolismo e o bem-estar.

Quando essas bases estão bem cuidadas, o corpo encontra naturalmente o seu peso saudável — aquele que pode ser mantido de forma sustentável, sem esforços extremos e sem sofrimento.

Forçar o corpo não é saúde

Se, para atingir um determinado número na balança, você precisa abrir mão da sua saúde emocional, do prazer de comer, do convívio social ou de uma rotina equilibrada, esse número não é o seu. Forçar o corpo a se encaixar em um padrão que não lhe pertence é uma forma de violência.

A verdadeira saúde não está em forçar a máquina, mas em cultivar equilíbrio. É aceitar que cada corpo tem seu ritmo, sua forma e sua expressão. É respeitar a diversidade e entender que saúde pode se manifestar em diferentes tamanhos e pesos.

Ação: um convite para olhar além da balança

Minha proposta como nutricionista comportamental e integrativa é que você abandone a busca pelo “peso ideal” e comece a construir uma relação mais gentil com seu corpo. Em vez de perseguir números, que tal focar em hábitos reais, possíveis e sustentáveis?

O seu corpo sabe o que é melhor para você — basta oferecer condições para que ele se expresse em sua melhor versão. O peso saudável não está em uma tabela, está em viver com energia, prazer, equilíbrio e bem-estar.

Eu te convido a trocar a balança pela escuta. Trocar o cálculo do IMC pelo cuidado integral. E, principalmente, trocar a busca por um ideal pelo respeito àquilo que o seu corpo é de verdade.

Conclusão

Não existe um “peso ideal” universal. O que existe é um peso saudável, único para cada pessoa, que surge do equilíbrio entre corpo, mente e hábitos de vida.

Olhar para a saúde a partir da nutrição comportamental é um convite para abandonar os padrões impostos e se reconectar com a própria realidade corporal. Mais do que números, importa a forma como você vive, se alimenta, se movimenta e se cuida.

E lembre-se: saúde é plural, diversa e única — assim como você.

Com carinho,
Júlia Menezes
Nutricionista Comportamental e Integrativa

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Júlia Menezes

Nutricionista pela UFOP, Terapeuta corporal e Doula, com formações diversas em Terapia Cognitiva Comportamental, Saúde da Mulher e Ginecologia Natural, Terapia Cannábica, Terapia Sensorial. Propõe uma nutrição integrativa e gentil, que valoriza comida de verdade e respeita a história e ritmo de cada um. Sem dietas restritivas, tem como foco acolher o porquê das escolhas alimentares e como torná-las mais nutritivas e gostosas, envolvendo o contexto de vida, hábitos, sentimentos e demandas em saúde. Não se trata apenas de alimentação, mas de tudo que de alguma forma está relacionado a ela, sendo o conhecimento, consciência e prazer, as chaves para se estar em paz com a comida e corpo.

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